Relatório preliminar dos dados da iniciativa Plastic Pirates
Setembro de 2022 a junho de 2023
Introdução
Entre setembro de 2022 e junho de 2023, um total de nove países europeus participaram nas campanhas de outono e primavera da iniciativa de ciência cidadã Plastic Pirates, procedendo à recolha de dados em cursos de água doce por toda a Europa, envolvendo turmas escolares e outros grupos de jovens.
Avaliação quantitativa
Nota: este relatório está a ser publicado em simultâneo com a análise científica, que ainda está em curso. Todos os resultados apresentados são preliminares e poderão ser atualizados numa fase posterior.
São vários os indicadores considerados durante a recolha de dados, tais como a variedade e a quantidade de resíduos nas margens dos rios, bem as suas potenciais fontes. A nível europeu, os resultados preliminares já revelam variações significativas no que diz respeito aos tipos de resíduos de plástico encontrados, aos resíduos de plástico descartável presentes e às quantidades de resíduos observados nos países participantes, permitindo uma avaliação dos dados recolhidos a nível internacional.
Nesta análise, serão considerados os dados recolhidos durante o período de setembro de 2022 a junho de 2023 pelos grupos escolares envolvidos na iniciativa de ciência cidadã em Portugal.
21 amostras de Portugal introduzidas na base de dados Plastic Pirates
Em Portugal, 21 pontos de amostragem foram analisados de setembro de 2022 a junho de 2023. No total, mais de 350 participantes estiveram envolvidos em amostragens em rios e outros cursos de água doce do país. Uma grande parte dos dados provém do rio Tejo ou de rios que nele desaguam. Outros rios analisados, como os rios Cértima, Jamor, Alfusqueiro, Leça, Pinhão, Ferreira e Esteiro, podem ser vistos no mapa abaixo.
Composição dos resíduos das margens dos rios (Grupo A - Resíduos nas margens do rio)
Entre os resíduos encontrados pelos estudantes portugueses nas margens dos rios analisados, a maioria era composta por plástico (51%), seguindo-se outros tipos de resíduos (toalhitas, tampões, pensos higiénicos, cerâmica, etc.) (20%), vidro (11%), papel (7%), beatas de cigarro (7%), metal (3%) e restos de comida (1%).
Variedade de resíduos nas margens dos rios e resíduos de plástico descartável encontrados (Grupo B – Variedade de resíduos nas margens do rio)
No total, os dados preliminares indicam que os participantes recolheram e identificaram mais de 9100 resíduos nas margens dos rios, com um peso de cerca de 128 kg. No conjunto de amostras pesadas, 45% do peso médio de todos os resíduos correspondia a resíduos de plástico.
Segundo os dados preliminares europeus, o peso relativo dos resíduos de plástico em todos os países participantes é inferior a 50% do peso do total dos resíduos recolhidos numa só amostra.
Cerca de 40% dos resíduos encontrados são resíduos de plástico, dos quais 72% são resíduos de plástico descartável (SUP). Nos dados preliminares europeus, “os SUP representavam mais de 50% dos resíduos de plástico por amostragem na Eslovénia, Lituânia, Espanha, Portugal, Grécia, Bulgária e Bélgica”.
Os resíduos de plástico descartável encontrados eram maioritariamente compostos por poliestireno (30%) e sacos de plástico (17%), seguidos de tampas de garrafas (11%), embalagens de doces e bolachas (11%), cotonetes (10%), embalagens de takeaway e fast-food (9%), garrafas de plástico (6%), talheres e pratos de plástico (4%) e toalhitas, tampões e outros produtos de higiene (3%).
Fontes potenciais de resíduos ao longo da margem dos rios (Grupo D – Equipa de repórteres)
Segundo os participantes, a maioria dos resíduos provém dos visitantes das margens do rio, sendo esta a fonte mais provável em 31% dos pontos de amostragem. Isto vai de encontro ao grande número de sacos de plástico, tampas de plástico, embalagens de plástico e outros artigos descartáveis semelhantes encontrados. No entanto, a grande quantidade de poliestireno encontrada poderá não ser causada pelos visitantes da zona ribeirinha: com base nos dados preliminares das amostras, seis dos 21 pontos registaram a maior quantidade de poliestireno, representando 86% do total de poliestireno encontrado nos pontos de amostragem portugueses.
Dos seis pontos em questão, quatro locais principais foram amostrados: as praias da Trafaria e de Porto Brandão numa das margens do rio Tejo, e as praias de Algés e Paço de Arcos na margem oposta. Para além dos visitantes, estes seis pontos referem a pesca como a fonte mais provável dos resíduos encontrados.
Conclusão
As amostragens portuguesas realizadas entre setembro de 2022 e junho de 2023 revelam que mais de metade dos resíduos recolhidos nas margens dos rios são resíduos de plástico, constituindo esta uma das fontes de poluição dos ecosistemas aquáticos mais preocupantes. Em relação aos resíduos de plástico descartável, verifica-se uma predominância de poliestireno. Embora seja possível concluir que os visitantes dos locais de amostragem são, na maioria dos casos, a fonte mais provável de origem de resíduos descartáveis, verifica-se igualmente que, nos locais onde o resíduo mais comum é o poliestireno, a pesca foi a segunda fonte mais frequentemente apontada pelos participantes.
Assim, e em concordância com os resultados preliminares europeus, torna-se mais importante do que nunca encorajar a mudança de comportamentos, o consumo sustentável e a procura de soluções ecológicas.
Desde o início da implementação do projeto em Portugal foram criados mais de 80 conjuntos de dados resultantes de nove campanhas de amostragem que envolveram mais de 1500 participantes de 38 escolas, abrangendo o período de outono de 2020 até à primavera de 2024. Aproveitamos para agradecer aos jovens, professores e professoras envolvidos/as nesta iniciativa pela recolha valiosa de tantos dados em tão pouco tempo e numa área geográfica tão dispersa. Esta contribuição é uma ajuda preciosa na missão de proteger os nossos rios e o nosso oceano.
